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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Rádio Moçambique: Memórias de um doce calvário

Edifício-sede da Rádio Moçambique
Para Silvestre Sechene, jurista, a leitura deste livro de autoria de Luís Loforte, “proporcionará aos que se interessam pelas matérias da radiodifusão, e não apenas a estes, a oportunidade de se informarem sobre a história recente da rádio, particularmente no período de transição de Rádio Clube de Moçambique para a actual Rádio Moçambique”.

Assim escreveu aquele jurista no prefácio daquela obra publicada em 2007.
Trata-se de uma incursão em que, cito de novo Sechene, “habilidoso, Luís Loforte, agacha-se na noite das memórias e oferece-nos o que podem ser considerados aspectos preciosos da história da radiodifusão em Moçambique”.

O livro, que recomendo vivamente aos radiófilos de todos os quadrantes, pode ser adquirido em algumas livrarias da cidade de Maputo – fora da capital não se conhecem livrarias – ao preço de 250,00 Meticais (Usd10).

Não resisto em reproduzir um excerto do capítulo Rádio Clube de Moçambique, esperando eu que o seu conteúdo sirva para “aguçar” a curiosidade dos bloguistas e a pertinência de ter nas suas prateleiras uma obra de tão elevado valor.

“O RCM era a maior e a mais antiga das tres estações emissoras que entraram na constituição da Rádio Moçambique, mas não e a ele, pelo menos com essa denominação, que se devem as primeiras transmissões radiofónicas em Moçambique. As primeiras emissões experimentais de rádio, conhecidas em Moçambique, datam de 16 de fevereiro de 1933, uma quinta-feira. Formalmente, porém, as emissões arracaram a 18 de Marco do mesmo ano, um sábado, naquilo que foi o primeiro sinal do Grêmio, lançado a partir de um prédio situado na então Avenida da Republica, hoje 25 de Setembro, antes de passar a emitir a partir de instalações igualmente alugadas na então Rua Araújo, hoje Rua de Bagamoyo, em Março de 1939. Por decisão dos seus associados, o Grêmio passou a chamar-se Rádio Clube de Moçambique, em 29 de julho de 1937, uma quinta-feira, num ano em que em toda a colónia apenas existiam mil e quatrocentos receptores de rádio, metade dos quais na cidade de Lourenço Marques (Maputo, hoje). Até aí, na colónia apenas se escutavam de forma regular as emissões da União Africana, e da Europa e América do Norte quando calhava”.

“A ideia da criação do “Grêmio” partiu de dois radioamadores, nomeadamente Augusto das Neves Gonçalves e Firmino Jose Sarmento, aos quais, mais tarde, se juntaria Aniano Serra, contando com o apoio cúmplice dos comerciantes dos receptores e materiais afins”. (…)

“ …. Em 1937 o “Grêmio” passou a chamar-se Rádio Clube de Moçambique. Na verdade, só a responsabilidade de se chamar “Rádio Clube de Moçambique” pertcenceu aos associados, porquanto a da alteração coube às autoridades políticas de então, provavelmente porque a designação de “Grêmio” carregava consigo uma conotação corporativa e, portanto, algo do foro político e industrial. O “Estado Novo” classificava tudo em função dos fins. Pela natureza e fins perseguidos, uma associação de radiófilos não podia ser um grêmio. Grêmio eram, por exemplo, as associações industriais de óleos vegetais, das indústrias de transportes e automóveis pesados ou dos indústriais gráficos. Organização corporativa viria também a ser a União Nacional, o partido do ditador António de Oliveira Salazar. Impôs-se, portanto, que o “Grêmio” adoptasse uma designação do foro das “Sociedades de Recreio”, como o Clube Militar …”.

Se, ao tempo do Rádio Clube, o locutor dizia, depois do gongo, “Aqui Portugal Moçambique, fala-vos o Rádio Clube de Moçambique, dos seus estúdios em Lourenço Marques”, o do Grêmio, em português e inglés, referia: “Aqui Lourenço Marques CR7AA, estação emissora do Grêmio dos Radiófilos, trabalhando na frequência dos 6137 quilocíclos, onda de quarenta e oito metros e oito centímetros…”. CR7AA designava o primeiro emissor do “Grêmio” e correspondia à codificação imposta aos radioamadores desta região. Contrariamente ao que se possa pensar, o CR7AA não foi um emissor importado, mas construido em Moçambique por Augusto Gonçalves e A.J.Morais. O emissor ainda existe e é uma relíquia que a Rádio Moçambique tem sabido, felizmente, preservar, cumprindo assim o desejo manifestado pelos fundadores do “Grêmio” quando aquele emissor foi reformado: “Que descanse em paz sob os louros, a velha reíiquia, guardada religiosamente nas salas do Grêmio para marcar uma época da história da radiodispersão na colónia”. Hoje não somos colónia, mas cumpre-nos o dever civilizacional de preservar a nossa memória colectiva”.
…..

“ … A partir da então Lourenço Marques, o RCM mantinha em funcionamento quarto emissões independentes, sendo trés em português (Programas A,C e D), e uma em inglés e Afrikaans (B Station ou simplesmente LM Radio). À excepção de Gaza, todos os então chamados distritos do Estado de Moçambique tinham em funcionamento os seus emissores regionais, …”.

Não resisto em transcrever o último parágrafo desta obra de Luís Loforte: “Estou há quase uma vida na radiodifusão. Dela me apresto a sair, estou no umbral da porta de saida. Perguntarão os mais novos o que teria para lhes transmitir e eu direi que pouco e muito ao mesmo tempo. Talvez lhes seja útil, apenas, o conselho de que os verdadeiros radiófilos são aqueles que ficam felizes quando alguém, um dia, lhes venha a dizer que um, um que seja, dos nobres objectivos da radiodifusão terá sido conseguido contando com a sua colaboração. Não serei uma excepção. E porque não serão muitos aqueles que se resolvem dar à estampa as suas memórias, neste caso também gostaria que, ao lerem este modesto livro, soubessem que percorri o meu ciclo radiofónico num misto de muita felicidade e de alguma amargura, razão pela qual resolvi escolher a frase que dá título a este livro: “Rádio Moçambique – as memórias de um doce calvário”.

Para os interessados na obra, em baixo os contactos:
luisloforte@rm.co.mz
eagmatos@gmail.com

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