Nesta entrevista ao G1, Shelby Steele diz que Obama é favorecido por ser negro.
Por: Daniel Buarque Do G1, em São Paulo entre em contato
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Descrito como orador carismático, ou estrela pop da política, o pré-candidato democrata à Casa Branca Barack Obama nada mais é de que um fenômeno social ligado à raça e à culpa, segundo o pesquisador norte-americano Shelby Steele. Para ele, Obama tem deixado de lado o discurso político na sua sua campanha, e focado apenas no que chama de “culpa branca”, uma grande vontade, por parte do eleitorado, de superar a história de racismo do país.
“Os Estados Unidos estão desesperados por um presidente negro, e Obama se beneficia disto”, disse Steele, em entrevista ao G1, por telefone. O problema, segundo ele, é que os eleitores acabam apoiando um candidato que mal conhecem, e que ajudam a vencer só por causa da cor da sua pele. “Ninguém sabe de verdade quem ele realmente é. Sabemos que é um negro simpático, mas nada além disso. Não temos idéia do que ele realmente vai fazer se chegar à Casa Branca.” Steele é pesquisador de relações raciais da universidade Stanford e do Intituto Hoover, e ataca as políticas de acção afirmativa, que diz serem apenas uma forma de os brancos buscarem “redenção”. Sobre o tema, ele escreveu o livro “White Guilt” (Culpa branca). O pesquisador também se dedicou a uma obra sobre o fenômeno Obama: “A Bound Man - Why We Are Excited about Barack Obama and Why He Can't Win” (algo como “Um homem de limite: por que estamos animados com Barack Obama e por que ele não pode ganhar”), em que critica o avanço político do pré-candidato.
Steele diz que não vai votar em Obama, caso ele seja escolhido o candidato democrata.
G1 – O sr. está surpreso de ver Barack Obama liderando a disputa pela candidatura democrata à Casa Branca?
“Os Estados Unidos estão desesperados por um presidente negro, e Obama se beneficia disto”, disse Steele, em entrevista ao G1, por telefone. O problema, segundo ele, é que os eleitores acabam apoiando um candidato que mal conhecem, e que ajudam a vencer só por causa da cor da sua pele. “Ninguém sabe de verdade quem ele realmente é. Sabemos que é um negro simpático, mas nada além disso. Não temos idéia do que ele realmente vai fazer se chegar à Casa Branca.” Steele é pesquisador de relações raciais da universidade Stanford e do Intituto Hoover, e ataca as políticas de acção afirmativa, que diz serem apenas uma forma de os brancos buscarem “redenção”. Sobre o tema, ele escreveu o livro “White Guilt” (Culpa branca). O pesquisador também se dedicou a uma obra sobre o fenômeno Obama: “A Bound Man - Why We Are Excited about Barack Obama and Why He Can't Win” (algo como “Um homem de limite: por que estamos animados com Barack Obama e por que ele não pode ganhar”), em que critica o avanço político do pré-candidato.
Steele diz que não vai votar em Obama, caso ele seja escolhido o candidato democrata.
G1 – O sr. está surpreso de ver Barack Obama liderando a disputa pela candidatura democrata à Casa Branca?
Shelby Steele – Não posso dizer que estou surpreso com isso, e acho que a razão de isso acontecer está muito mais ligada ao que está acontecendo atualmente nos Estados Unidos de que com a personalidade de Obama propriamente dita. Há uma enorme fome na “América Branca” de superar nossa história de racismo. Obama foca sua campanha nisso, e esta fome, esta “culpa branca”, é ainda maior de que eu achava que era, e trouxe ele por todo o caminho.
G1 – Não se deve falar, então, que a conquista se dá por uma questão do carisma pessoal de Obama e seus discursos “empolgantes”?
Steele – Exatamente. Ele é uma pessoa boa, mas não chegou onde está por ser quem é. Há algo acontecendo com a sociedade, e milhões de norte-americanos brancos querem desesperadamente superar o passado de racismo do país, e se livrar da acusação permanente de que todos os brancos são racistas. Barack Obama é a oportunidade de fazer isso. Não consigo ver todo este carisma que dizem que ele tem, mas quando existe uma necessidade deste tipo na sociedade, a pessoa parece ser carismática, parece ter mágica. Obama é a história da América branca e sua necessidade de inocência, de superar o passado.
G1 – As pesquisas de boca-de-urna em eleições primárias em quase todos os estados mostram, entretanto, que o maior apoio a Obama está entre os negros. Na maior parte das prévias ele recebeu apoio de 80% dos negros norte-americanos, enquanto os brancos parecem apoiar mais Hillary Clinton. Isso não vai contra a idéia da “culpa branca”?
Steele – No início, os negros eram contrários à campanha de Obama. Há um ano, as pesquisas indicavam que 80% dos eleitores negros prefeririam apoiar Hillary Clinton. Antes de conquistar os eleitores negros, Obama precisou convencer os brancos, o que ele começou a fazer em Iowa, quando os brancos começaram a dar mais atenção a ele. Pouco tempo depois, o ex-presidente Bill Clinton fez um discurso em que introduziu a carta da raça, acusando Obama de usar isso em sua campanha. Isto foi o começo do fim para Hillary. Ela poderia estar vencendo, se ele não tivesse falado isso. Foi ali que os negros assumiram uma postura defensiva, e passaram apoiar o ‘seu homem’. Os negros norte-americanos, acredito, continuam muito ambivalentes em relação a Obama, mas vão apoiá-lo por que acham que ele foi mal-tratado, com base na raça.
G1 – A campanha de Hillary Clinton começou agora a usar o discurso do sexo, dizendo que é “machismo” pedir que ela desista da disputa pela Casa Branca por estar atrás de Obama na corrida das primárias. Isso está relacionado à forma como o sr. diz que Obama ganhou o apoio dos negros?
G1 – A campanha de Hillary Clinton começou agora a usar o discurso do sexo, dizendo que é “machismo” pedir que ela desista da disputa pela Casa Branca por estar atrás de Obama na corrida das primárias. Isso está relacionado à forma como o sr. diz que Obama ganhou o apoio dos negros?
Steele – Claro. Hillary vai lutar até o fim e usar todas as cartas que puder. Ela agora tenta conquistar o apoio das mulheres, apontando como preconceito, machismo, querer que ela desista da disputa. Ela acha que pode conseguir o apoio da forma como Obama conseguiu, e claro que vai tentar usar esta vitimização.
G1 – O sr. acha que os norte-americanos estão prontos para votar e ter um presidente negro? A “culpa branca” tem força suficiente para superar todas as formas de preconceito que ainda existem no país?
Steele – Sim, os Estados Unidos estão prontos para ter um presidente negro. Colin Powell teria vencido facilmente Bill Clinton em 1996. Ele era um candidato muito mais forte de que Obama é hoje, e era um general que tinha ido a guerras, sido ferido em batalha, e poderia facilmente ser presidente. Na verdade, os Estados Unidos estão desesperados por um presidente negro, e Obama se beneficia disto. Há uma enorme vontade de ter um presidente negro por parte da sociedade branca dos Estados Unidos. Não acho que a “culpa branca”, sozinha, vai ser suficiente para levar Barack Obama à Presidência, entretanto. Com a aparição do reverendo Wright, começamos a ver o verdadeiro Barack Obama aparecer, alguém completamente diferente do que as pessoas esperavam. Obama começou a perder apoio entre os brancos desde então, e acredito que veremos outros casos semelhantes, em que a verdade começa a aparecer e as pessoas se decepcionam, fazendo com que a “culpa branca” perca força até a eleição. Ela o trouxe até aqui, e claro que pode levá-lo até a Casa Branca, mas acho que ela vai se enfraquecer quando os norte-americanos verem que é um erro deixar de lado as propostas e escolher um candidato com base apenas em sua raça.
G1 – O sr. diz que a campanha de Obama se prende apenas na questão da raça, sem tratar realmente de propostas. O sr. acha que, se Hillary Clinton vencer as primárias, haverá uma disputa com base no sexo?
Steele – Não. A campanha de Hillary Clinton é baseada acima de tudo em propostas, e os norte-americanos sabem que ela é perfeitamente capaz de ser uma ótima presidente. Ela foi uma boa senadora, tem uma campanha que mostra muita força e coragem, e conquistou o respeito de todos. Uma campanha de Hillary dificilmente usaria a questão de gênero em busca da Presidência.
G1 – O subtítulo do seu livro diz que “por que estamos animados com Barack Obama e por que ele não pode ganhar”. O sr. acha que ele seria um mau presidente?
Steele – O grande problema em relação a Barack Obama é que ninguém sabe de verdade quem ele realmente é. Sabemos que é um negro simpático, mas nada além disso. Não temos idéia do que ele realmente vai fazer se chegar à Casa Branca. Ele fala de forma muito eloqüente, fala em mudança, fala que vai atender a todos, mas não diz quem ele é. Talvez ele se torne um ótimo presidente, mas diria que nem ele mesmo sabe exatamente o que vai fazer se for eleito. Ele não parece ter uma visão real para os Estados Unidos. Meu sentimento ainda é de que ele não pode vencer. Ele tem que dizer aos eleitores quem ele realmente é, antes de querer ser eleito presidente.
G1 – É possível relacionar a “culpa branca” com o fato de Obama não ter muito apoio entre os eleitores latinos, que parecem preferir Hillary Clinton?
Steele – Exatamente. Os latinos se questionam o que há para eles na campanha de Obama. Eles não têm a “culpa branca” da mesma forma que os norte-americanos brancos, não querem redenção, e ao mesmo tempo não são tocados pelo discurso da raça, que o fez conquistar os eleitores negros, então eles ficam à espera de algo mais concreto, de políticas, e não vêem nada para eles na campanha. Os latinos são o grupo mais reticente a apoiar Obama porque parecem perceber as falhas das suas propostas, e ele não conseguiu superar isso até agora.
G1 – Em quem o sr. vai votar nas eleições de novembro?
Steele – Não vou votar em Obama, posso dizer isso. A não ser que até lá ele venha a público dizer qual sua visão para os Estados Unidos realmente é. Ele precisa dizer o que pretende fazer, se for eleito, e não no nível do idealismo, mas de política diária e concreta. Precisamos saber o que ele vai fazer. Obama diz que vai tirar os EUA do Iraque. Precisamos saber como ele pretende fazer isso, que é uma das coisas mais difíceis da história da humanidade. Falta o elemento concreto em sua campanha. Estou aberto para ouvir suas propostas, se ele as tiver. Sem propostas eu não votarei nele e acho que sua campanha vai acabar fracassando se continuar apostando dessa forma.(X)