HAVANA (Reuters) - Raúl Castro completa esta terça-feira 77 anos de vida e 100 dias como presidente de Cuba, um governo que vem despertando esperanças de mudanças após os 49 anos sob o comando do seu irmão Fidel.
Numa idade em que a maioria dos homens se aposenta, Raúl Castro toma medidas para modernizar a economia estatal. Até assumir o poder interinamente devido a uma doença de Fidel, em julho de 2006, Raúl, que era ministro da Defesa, tinha a reputação de ser sério e pragmático, mas menos carismático que o irmão. Havia dúvidas se os cubanos o aceitariam como líder.
Agora, Raúl e as suas reformas dominam a discussão política em Cuba, e de certa forma, ele tornou-se a personificação da esperança.
O governo diz que Fidel, de 81 anos, continua envolvido nas decisões, mas os cubanos em geral creditam a Raúl algumas medidas populares, como a venda de celulares e computadores, a descentralização da produção agrícola e a permissão para que os cubanos se hospedem em hotéis antes restritos.
"Eu construía hotéis, mas depois não podia nem chegar perto", disse o pedreiro Julio, 32 anos. "Agora não posso ir porque são caros, mas pelo menos não me proíbem."
O manobrista Ismael, de 62 anos, diz que consegue observar a mudança porque agora ele tem mais trabalho. "Há mais carros nas ruas, mais turistas, as pessoas saem mais. Raúl quer saber o que as pessoas pensam e querem, e vimos a mudança em pouquíssimo tempo."
O governo comprou autocarros e acabou com o tecto salarial, de modo a estimular a produtividade.
"As pessoas ficaram surpresas pelas mudanças que Raúl fez. O transporte melhorou, e isso era impossível de imaginar há seis meses", disse a farmacêutica Rita del Carmen, 49 anos.
Mas também há quem veja nessas medidas apenas uma maquiagem numa revolução decadente. "Nada mudou para a maioria das pessoas. Estão só a tentar apegar-se ao poder", disse Pedro, 60 anos, funcionário de um hotel.
O governo dos EUA, notando a ausência de reformas políticas, nega que haja mudanças significativas em Cuba. "O que precisa mudar é que eles libertem presos políticos - precisam permitir os direitos humanos fundamentais, precisam permitir eleições livres, liberdade de expressão", disse numa recente entrevista o secretário norte-americano de Comércio, Carlos Gutierrez.
Num discurso, o presidente George W. Bush ridicularizou as reformas, que chamou de "piada cruel".
Mas Philip Peters, especialista sobre Cuba do Instituto Lexington, da Virginia, disse que os cubanos "agora têm, pela primeira vez em muito tempo, a sensação de que este governo está a fazer algo, tratando de algumas das suas muitas insatisfações, e politicamente isso deixou Raúl Castro numa condição muito mais forte."
Julia Sweig, do Conselho de Relações Internacionais, de Washington, previu que "daqui a um ano vamos olhar para trás e localizar ainda mais mudanças, mudanças mais substanciais".
"A verdade é que em bem pouco tempo essa já não será a Cuba de Fidel", disse ela.(X)