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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Barack Obama falou da América para o mundo (*)

O discurso de tomada de posse de Barack Obama não foi uma peça de oratória brilhante, iluminada, como algum romantismo poderia desejar, mas cumpriu com o que, realisticamente, se devia esperar: palavras fortes, ideias claras, uma comunicação da nova era global dirigida da América para o mundo.

Em cerca de 20 minutos, o 44. º Presidente dos Estados Unidos bateu substantivamente em todas as áreas delicadas deste seu princípio de mandado, internas e externas.

Obama falou com a dimensão que as suas origens lhe permitem e com o modernismo que lhe está associado. Foi religiosamente pluralista, aludindo às várias crenças americanas (cristãos, muçulmanos, judeus e hindus); mostrou as preocupações ambientais e energéticas que dominam a actualidade (pedindo as apostas no uso da energia do sol, do mar e do vento); e, sobretudo, insistiu no diálogo com todos os países democráticos e pacíficos para se encontrarem soluções globais para problemas globais, entre eles os da segurança e os da fome.

Após as promessas de campanha, foi também notório que o novo Presidente quis desfazer algumas das ilusões que existiam em seu redor, porque está consciente da dura realidade que o espera perante a mais grave crise económico-financeira dos últimos 80 anos e sabe que os Estados Unidos já não são o único país que reboca o mundo.

Durante o discurso viu-se igualmente um líder que apostou em pequenos sinais para mostrar quem é e o que quer ser. O Presidente da era tecnológica, de PDA na mão, que vai construir o futuro a partir do seu passado, quando o pai não conseguia entrar em alguns restaurantes. Dessa preocupação com os sinais nasceu a escolha de uma cubana para estilista da mulher e a selecção dos dois momentos musicais da tarde, com Aretha Franklin, a voz da soul, símbolo da América negra, e uma orquestra mista com uma hispânica ao piano, um asiático no violoncelo, um negro no clarinete e um judeu no violino.

A essência do discurso mostrou um Obama realista, que não assume sozinho a responsabilidade de resolver todos os problemas actuais. Fazendo uma reinterpretação da frase mítica de John F. Kennedy - "não perguntem o que o vosso país pode fazer por vocês; perguntem o que podem fazer pelo vosso país" -, apelou à cidadania e à mobilização de todos como única forma de restabelecer a confiança na economia e no sistema financeiro, assumindo que é preciso a consciência de estarmos a viver uma nova era. O mundo mudou e é preciso que todos repensem o seu papel de cidadãos livres.

O novo Presidente americano pode, ainda, sentir-se orgulhoso da participação que conseguiu incutir aos seus compatriotas. Washington assistiu ontem ao terceiro maior movimento de massas expontâneo da história moderna com mais de um milhão de pessoas. De semelhante, antes, só a confraternização dos cidadãos das duas Alemanhas logo após a queda do muro de Berlim e a mobilização, apesar dos riscos, dos timorenses para o referendo.

O discurso, tudo somado, esteve à altura do momento histórico que estamos a viver. Teve esperança, mas não vendeu ilusões, que seriam tão desnecessárias quanto absurdas. E algumas das suas palavras, sobretudo as dedicadas à participação dos cidadãos no afrontar dos problemas, são válidas e oportunas em todos os cantos do mundo.
(*) Editorial do Diário de Notícias, 21/01/2009

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