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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Woody Allen: "Sou frívolo e fissurado por mulher"

Por: Beppe Severgnini*

No início desta entrevista, feita em um hotel à beira-mar em Barcelona, Woody Allen parecia cansado e retraído mesmo falando sobre mulheres, o objeto de sua frivolidade assumida. Disse coisas como: "Não tenho interesse pela vida real." Ou: "Só falo dos meus filmes para ajudar os produtores." Mas se animou quando a conversa derivou para a política. "Sim, gosto de política. Não como artista, mas como cidadão", declarou, dias antes da eleição de Obama.
Podemos falar sobre seu novo filme, Vicky Cristina Barcelona?
Só falo dos filmes que faço para ajudar os produtores... Mas se dependesse só de mim, eu não falaria nada. Você realiza um filme e, se ele for bom, as pessoas vão vê-lo. Não seria preciso falar dele. Mas se ele não for bom, por mais que eu fale...
Noto que alguns críticos disseram que o filme é voyeurista. Concorda?
Voyeurista? Bem, somente no sentido de que um filme é uma coisa visual. Vicky Christina Barcelona não é nada voyeurista. Tive à minha disposição um elenco principal sexualmente carismático e poderia até ter explorado essa situação para voyeurismo, com grande respaldo artístico. Mas eu fui muito, muito comedido.
O sr. diria que, com o avanço da idade, está ficando mais fascinado pela beleza feminina?
Sempre fui! Mesmo quando criancinha, eu sempre fui fissurado por mulheres. Você sabe, eu sou muito frívolo. E um de meus traços frívolos é uma obsessão pela beleza. Durante a guerra, eu podia admirar como Rita Hayworth era magnífica... E nunca deixava de admirar a beleza nas garotas de minhas salas de aula. Isso é um traço frívolo, porque exclui todos os aspectos mais valiosos e sensíveis das mulheres que não são belas.
O sr. se interessa pelas vidas amorosas de seus atores?
Não, não tenho nenhum interesse pela vida real. Isto é, eles são ótimas pessoas, mas nunca ?socializo? com meus atores. Conheço Scarlett Johansson há anos, mas jamais almocei ou jantei com ela. Se ela estivesse bem aqui em pessoa, você pensaria: "Oh, ela é muito bonita", mas quando você a fotografa, ela se torna mais ainda. Agora, Penelope Cruz na tela é incrivelmente bela, mas quando você a encontra em pessoa, ela é ainda mais bela. Quando encontrei Penelope pela primeira vez - eu a tinha visto em Volver e achei que ela era muito linda - não conseguia acreditar o quanto ela era linda. Era uma coisa meio sobrenatural, como se ela tivesse vindo de Marte ou Júpiter.
Seus filmes recentes - Match Point, Scoop - o Grande Furo e agora este - são muito agradáveis. Mas como muitos outros, sinto falta do velho Woody Allen. Você parece ter outra coisa em mente agora. Será justo dizer que o velho Woody Allen das gargalhadas acabou?
Sim, mas acho que deixei isso há muitos anos. Fiz uma certa quantidade de filmes cômicos no começo, depois comecei a fazer filmes diferentes, mais sérios. Crimes e Pecados e Hanna e Suas Irmãs se saíram muito melhor que Bananas, Um Assaltante bem Trapalhão e Tudo Que Você sempre Quis Saber sobre Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar.
Por falar em Bananas, já pensou em fazer outro filme político?
Sim, pensei. Mas meu problema de sempre são os orçamentos. Eu trabalho com orçamentos pequenos, e fazer um filme político nos Estados Unidos, onde eu teria que fazê-lo, custaria muito mais dinheiro do que eu seria capaz de captar.
Acha que poderia fazer um filme que tivesse ampla aceitação em todo o território dos EUA? Ou Woody Allen é ligado demais a Nova York?
Nas cidades grandes e nas cidades universitárias, eu tenho boa aceitação. Mas a maioria do país não é isso. A maioria do país é o que chamamos de Estados vermelhos: Estados-Bíblia, Estados republicanos, Estados armas. E há pessoas nesses Estados que gostam de meus filmes, mas não a maioria. Não que elas não gostem de cinema; meus filmes nem sequer estariam em seu radar.
Não acha que Sarah Palin (que foi colega de chapa do candidato presidencial republicano John McCain) daria uma personagem fantástica para um filme de Woody Allen?
Oh, ela é divertida. Mas já foi bem explorada nas sátiras da televisão. Ela foi uma escolha estúpida, nada que mostrasse muito respeito pelos Estados Unidos. Serviu apenas para dar uma pequena ajuda momentânea à campanha, pelas tiradas divertidas. Mas acho que os americanos, por mais ridículos que tenham sido nas eleições anteriores, aprenderam alguma coisa.
Você gosta de política? Nós estávamos falando de cinema e você parecia cansado. Agora parece mais......
mais animado?
Isso. Mais interessado.
Sim, gosto de política. Não estou interessado em política como artista, mas como cidadão. Como sabe, eu voto. Contribuo com dinheiro. Fico feliz de fazer campanha por alguém.
Al Gore teria sido bom presidente?
Sim, acho que ele teria sido um bom presidente. Acho que é um homem inteligente e foi um mau candidato. Ele não teve carisma, não teve energia para concorrer, ele não conseguia focar. Mas daria um presidente muito bom porque é uma pessoa decente e é favor de uma agenda democrática, liberal.
Se pudesse voltar no tempo, gostaria de se tornar um grande tocador de clarineta, um ícone dos esportes, um grande escritor ou George W. Bush? Qual seria a sua escolha?
Um grande músico, pois a música supera tudo. É emocional e todo mundo adora música.
* Esta entrevista foi publicada originalmente no jornal The New York Times.

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