Mas nunca a cerimónia de homenagem ao homem que um dia sonhou que ninguém seria julgado pela cor da sua pele fez tanto sentido como hoje.
Na véspera de tomar posse, Barack Obama, o primeiro Presidente afro-americano do país, prometeu “renovar a promessa” do sonho americano.
Washington preparou-se para receber uma das maiores multidões da sua história – esperam-se mais de dois milhões de pessoas.
Mas antes disso, Obama quis prestar homenagem a Martin Luther King, participando em várias iniciativas destinadas a assinalar o dia que por tradição pertence ao activista dos direitos cívicos.
Foi assim que, por momentos, Obama vestiu a pele de pintor e decorador para, rodeado por um batalhão de jornalistas, tornar mais agradável um albergue para os chamados sem-abrigo e adolescentes. Também visitou feridos de guerra num hospital militar.
Já no domingo, Martin Luther King tinha estado implicitamente presente quando o próximo Presidente americano se dirigiu duzentas mil pessoas reunidas no National Mall: Obama escolheu o monumento à memória de Lincoln, o seu líder modelo, para falar sobre os desafios que enfrentam os Estados Unidos da América, o mesmo local onde Martin Luther King fez o seu célebre discurso “tenho um sonho”, em 1963, sobre a união racial.
Nas suas palavras de despedida, George W. Bush citou um outro Presidente, Thomas Jefferson, para dizer: “Gosto mais dos sonhos do futuro do que a história do passado”.
Já Obama foi buscar um sonho com mais de quarenta anos, que para alguns ficará em parte cumprido hoje, para falar dos projectos que tem para os Estados Unidos. “Os sonhos que sonhamos em separado formam apenas um”.
A tomada de posse de Obama, filho de pai queninano e mãe branca americana, é um marco na história racial dos Estados Unidos.
Mas o antigo senador de Illionois tentou afastar a questão durante a corrida à Casa Branca, para evitar um factor de divisão eleitoral, lembra o diário Washington Post, que na semana passada o entrevistou.
O diário refere que agora, pelo contrário, Barack Obama gosta de referir que a sua identidade mestiça pode ser um factor de união e transformação do país: “Há uma geração inteira que vai crescer a ter como garantido que o cargo mais alto no mundo é de um afro-americano”, disse Obama, para depois acrescentar que agora está a mudar a forma como as crianças negras olham para si próprias e como as brancas olham para as negras.
Há outras coisas que parecem estar já a mudar também.
Uma sondagem do Washington Post revela que há menos americanos a encarar o racismo como “um grande problema” da sociedade norte-americana.
Mas, o filho de Martin Luther King, que partilha o nome do pai, escreve também no Washington Post que a eleição de Obama não pode ser uma panaceia para as relações raciais do país, chamando a atenção de que a eleição de Barack Obama não torna totalmente realizado o sonho do seu pai. Há ainda um longo caminho a percorrer, escreveu Martin Luther King Jr.
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