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Cascatas da Namaacha: sete anos depois da seca

quinta-feira, 22 de maio de 2008

AKINATHIWONA PÁ ....


(Capela da Vila de Mecufi perto da Central Eléctrica)


A minha crónica tem este título: “Aquinthuna Wonna Athu Elhaka Enhonda”, que, traduzido de Macua para português, significa qualquer coisa como “Não quero ver ninguém a comer apenas peixe seco”.
Ora vejamos: Num mundo em que há muito pouca coisa para nos alegrar e tanta tristeja para infernar ainda mais as nossas vidas, não é todos os dias que nos sentimos realmente satisfeitos e, por momentos, gozamos de alguma leveza de espírito interior, qual pássaro a rasgar o céu, como dono e senhor.
Hoje, 22, caro leitor, levantei-me do meu catre bem disposto: comigo mesmo, com os vizinhos, com o meu cão-guarda, com a irritante vendedeira de hortaliça, enfim, bem disposto com tudo e todos.
A boa disposição foi-me transmitida pelo meu colega e amigo, Óscar Limbombo de seu nome, a partir de uma pacata vila, situada a cinquenta quilómetros a sul da cidade de Pemba.
Óscar Limbombo, esse malabarista que mesmo sem uma antena das telefonia móvel ou fixa, lá conseguiu “despachar” para o Jornal da Manhã da Rádio Moçambique, uma notícia tão simples mas ao mesmo tempo tão gratificante como esta: o velho gerador de energia eléctrica de Mecufi passava a partir de hoje à reforma. Em seu lugar as gentes de aldeias como Muária, Sassalane, Nthakane, e se calhar, de Kambala, passam a ser iluminadas pela corrente eléctrica da nossa Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Que Mecufi, enfim, entrava a partir de hoje, numa nova era do seu desenvolvimento. Quer dizer: os produtos marinhos, como peixe, camarão, lagosta, Mbare, capturados nas aguas do índico, já não iriam ser apenas fumados ou postos a secar por falta de meios frios, que agora se poderá pô-los a congelar e, assim, enviá-los para outros pontos da província e resto do país, para a sua comercialização. Aqui está o sentido do título desta minha crónica.
O Limbombo, como só ele, não se esqueceu de registar a voz de uma beldade que, tão inocentemente, sintetizou a alegria das gentes de Mecufi: “Agora vamos comprar geleiras e congeladores para pormos o nosso peixe”. Aí está o que é uma conquista que, aos olhos de gente que vive nas cidades, é tão corriqueira tanto quanto o ar que respiramos.
Uma conquista que me deixou bastante bem disposto, mas ao mesmo tempo com uma pontinha de tristeza. Porquê?, perguntar-se-á o leitor.
É o seguinte: quando ainda adolescente, e vivendo eu em Mecufi com irmãos e amigos: Roque, Luís, Adolfo, Sidónio, Germano, Quim e Melita Russo de Sá, a Cleid e o Meco, o gerador de energia que hoje vai a reforma, iluminou as nossas casas e permitia que, entre as 18 e as 22 horas, pudessemos ler e ouvir música e dançar. Não passavamos daquele limite, o combustível mesmo nessa altura (1970/73) já era ... caro.
O bonacheirão do Manuel, então encarregado de ligar e desligar este gerador que hoje vai a reforma em Mecufi, de quando em vez, lá adormecia e esquecia-se que estava na central eléctrica, o que nos valia mais uma ou duas horas de corrente eléctrica para nos divertirmos. Assim acontecia porque lhe corrompiamos com uma garrafinha de “Mwaken Mwalo”(*) da primeira. E uns "Mata Ratos" Kwekwero.
Não queria terminar esta minha crónica sem homenagear dois homens que marcaram de certa forma a infância de muitos das gentes de Mecufi. São eles, Genkwesse (barqueiro) e Chiquito (mecânico), zelesos funcionários da Administração desta vila que hoje, teve em Armando Guebuza não o Manuel da antiga Central Eléctrica, mas o accionador da energia eléctrica de Cabora Bassa rumo ao desenvolvimento de Mecufi, de Cabo Delgado, enfim desta Pérola do Índico. Akinathiwona, pá..., ou seja, “só visto...”.(X)

(*) Aguardente de Cajú


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