Estas confissões suscitam, no entanto, dúvidas aos serviços secretos ocidentais, pois muitos consideram impossível um só homem estar na origem de tantas acções e pensam que ele quer apenas tentar proteger outros terroristas e continuar, atrás das grades, a obra da sua vida. Mohammed, de 43 anos, viveu sempre como jihadista e assim quer morrer, caso seja condenado à pena capital pelo tribunal militar de excepção a que foi presente quinta-feira.
Natural do Koweit, de uma família paquistanesa do Baluchistão, Mohammed integrou a Irmandande Muçulmana aos 16 anos e, algum tempo depois, foi estudar para os EUA. Formou-se em engenharia mecânica numa universidade da Carolina do Norte, em 1986, mas decidiu ir dar o seu contributo na jihad anti-soviética que decorria no Afeganistão. Ali conheceu Abdul Rasul Sayyaf, um próximo de Massoud, que seria o seu mentor, refere o relatório da comissão americana que analisou o 11 de Setembro de 2001. Após a derrota afegã dos soviéticos, partiu então para o Qatar, onde trabalhou como engenheiro do Ministério da Electricidade e da Água até ao ano de 1996. A partir deste emirado enviou dólares para Nova Iorque, para apoiar o atentado ao World Trade Center, que fez seis mortos e mais de mil feridos e foi planeado pelo seu sobrinho Ramzi Yussef. Os dois encontraram-se, depois, nas Filipinas, para montar a operação Bojinka. Esta consistia em fazer explodir uma dúzia de aviões comerciais sobre o Pacífico e só foi descoberta por causa de um incêndio que levou à descoberta de um dos seus computadores.
O encontro com Ussama ben Laden, determinante, deu--se em 1996, em Tora Bora. Na altura, segundo testemunhos, Mohammed propôs ao número um da Al-Qaeda um ataque contra o World Trade Center para terminar aquilo que o seu sobrinho havia começado. Três anos mais tarde integrou, totalmente, a rede de Ben Laden, mas manteve sempre alguma autonomia, pois escondia a sua relação com o campo anti-talibã de Sayyaf. Apesar de ter idealizado os ataques, mais uma vez com aviões, o financiamento veio do líder da Al-Qaeda, bem como a escolha do suicida que iria liderar a missão terrorista, ou seja, Mohamed Atta. Após os ataques, que deixaram o mundo em estado de choque, Khalid Sheik Mohammed admitiu, em 2002, o seu envolvimento numa entrevista que deu à televisão Al-Jazeera. A 1 de Março do ano seguinte era preso, em Rawalpindi, pelas forças paquistanesas. As suas imagens de recém-acordado, com cabelo desgrenhado, correram mundo. Algum tempo depois desapareceu do Paquistão e foi levado para uma das prisões secretas da CIA. Voltou a dar sinal de vida já em Guantánamo, para onde foi transferido, no final de 2006.
Foi então que confessou tudo, até que fora ele quem decapitara Daniel Pearl, em 2002: "Eu decapitei com a minha abençoada mão direita a cabeça do judeu americano. Quem tiver dúvidas e queira confirmar basta ver as imagens que estão na Internet". A verdade é que nas imagens não se vê a cara da pessoa que segura a cabeça do jornalista. Além de Mohammed ter tendência para exagerar a realidade, como diz a Comissão do 11 de Setembro, pesa o facto de ele ter sido submetido a técnicas de interrogatório consideradas como tortura, sendo a mais conhecida e controversa simulação de afogamento. Os advogados de defesa pretendiam, por isso, que as provas apresentadas fossem anuladas por serem ilegais. Mas Mohammed indicou, na quinta-feira, que pretende assegurar a sua própria defesa, para conseguir morrer como mártir.(X)
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