Pelo mundo fora


contador gratis

Cascatas da Namaacha: sete anos depois da seca

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Felizminha, eu te gramo muito

In – “Khuvu”, CD de Stewart Sukuma”, 2007

Provavelmente a raça dos “janotas” e “Dom Juan” que fazem passear a sua classe nos meios sociais da nossa praça, sobretudo os frequentados pelas mais badaladas e sofisticadas raparigas, chamar-me-ão “simplório” ou, pior, “paspalho”. Aceito os dois adjectivos, mas preferia que me classificassem de “ridículo”.
Explico-me.
“Feslizminha, eu te gramo muito”, não sendo na nossa gíria uma afirmação amorosa por aí além, é, quanto a mim, a mais bonita e sublime declaração de amor que se pode fazer a uma moça. E eu, ainda moço, bem magricela e desengoçado, a sussurei bastas vezes aos ouvidos de beldades em esquinas nos bairros da Mafalala e Xipamanine, primeiro em Lourenço Marques (Maputo) e mais tarde em Cumilamba e Cariacó, em Porto Amélia, hoje Pemba. Elas, soltando timidamente risadinhas, “gramavam” a valer da declaração. E não é que “caíam” mesmo minha teia...
Ora, não é que hoje um dos nossos mais representativos compositores musicais, Stewart Sukuma, foi rebuscar aquela frase tão simples, tão terna, para muitos “ridícula”, para a cantar numa das suas mais bem apanhadas composições inseridas no que eu considero um dos melhores trabalhos musicais dos últimos tempos – “Khuvu”.
Stewart, pois, celebra o amor, a paixão, com uma simplicidade tal só possível de se encaixar numa obra musical do quilate de “Khuvu”.
Comprei o CD. 405,00 meticais foi o valor, muito para os meus parcos provimentos. Vale o sacrifício. Antes, confesso, e tanto quanto me lembro, de CD´s de música moçambicana, comprei o “Kewa Zambêzia” para me deliciar com a simplicidade musical do Mussa Rodrigues e alguns outros “nós somos cantores moçambicanos”. De outros CD´s dos ditos cantores “Made in Mozambique”, nem se quer me dou o trabalho de os consultar.
Quando entro numa discoteca à cata de música, normalmente o meu polegar só funciona na vasculha de música “MÚSICA” e mesmo assim longe dos “especialistas” em retirar dos computadores sons apenas perceptíveis aos ouvidos de gente que não tem referências culturais verdadeiramente nossas.
Nisso, sou ainda muito mais complicado.
Por exemplo: Não compro os CD´s de Fany Pfumo, Alexandre Langa, Lisboa Matavela e tantos outros “velha Guarda” simplesmente porque o melhor deles está apenas nos discos Vinil, que hoje não os há. Nos 45, 33 e 77 rotações. As obras destes “Monstros” da nossa música editadas digitalmente, deixam muito a desejar, não tanto em termos de qualidade técnica das gravações, mas simplesmente porque não as interpretaram com aquela “alma” a que nos habituaram. Despacharam para vender.
Alguns exemplos:
“A Vasat Va Lomu” e “Moda “Xicavalu” do Fany tocadas e entoadas pelo próprio nas décadas 60/70, não têm o mesmo “feeling” nas suas versões digitalizadas de hoje. O mesmo se aplica a “Smith Wa Phepuka”, “Candongueiro” ou “A ma Metical”, de Alexandre Langa.
E quando digo cantar com “alma”, posso me referir a uma obra musical que considero excepcional no nosso cancioneiro popular: “Sapateiro” cantada pelo Daniel Langa (irmão do Alexandre) é, meus senhores, algo que “põe no sapato” a versão interpretada por Wazimbo no CD da Orquestra “Marrabenta Star Moçambique”, acompanhado nos coros pelas vozes da Mingas e da Dulce. É que o Daniel está lá “dentro” do que canta, de tal sorte que diz, a dada altura, que quem lhe “roubou” a mulher foi o sapatero e não o sapateiro; que a “mulher” fugiu-lhe num autocarro do Olivera e não Oliveira. Nada aqui há de maneiras de cantar e entoar abrasileiradas como hoje tanto se ouve nos CD´s nacionais.
Mérito aqui vai para as versões dos nossos “monstros” interpretadas quer por Wazimbo e pela Mingas quer por alguns outros – “Hodi” de João Cabaço, Arão Litsuri e Hortêncio do “Alambique” na RDA é uma relíquia – que foram modernamente bem apanhadas e que sabe bem ouvir e dançar em festas “à nossa maneira”.
Voltando ao “Khuvu” do Stewart Sukuma: confesso que o comprei este ano, há menos de um mês portanto, não porque já o tivesse escutado e apreciado na sua totalidade, mas pelo facto de a afirmação “Felizminha, eu te gramo muito” me ter chamado a atenção, assim como a forma magistral como ele (Stewart) e os seus acompanhantes souberam aliar a “boniteza” dos instrumentos convencionais aos recursos tecnológicos à sua disposição. O CD, todo ele, não foi feito com “preguiça”. Ali houve empenho e “alma”.
Na canção “Felizminha,....”, Stewart terá certamente viajado para os tempos da sua meninice, quando escrevia e mandava cartas de amor “simples” e “rídiculas”, o que me fez recordar Fernando Pessoa quando proclama que “Só é ridículo quem nunca escreveu cartas de amor ridículas”.
Aceito ser “ridículo” em questões de coroção, mesmo na idade em que escrevo este comentário. E aconselho a todos que sejamos “ridiculos” nesta matéria e para toda a vida, porque, como canta Maria Bethânia, “a vida, é bonita, é bonita e é bonita”.
Os outros, que não Stewart Sukuma, Wazimbo, Mingas, Hortêncio, Litsure, Matucoco, Mussa Rodrigues, Lázaro Vinho, esses, que continuem “palhaços” e continuem a ganhar os míseros meticais até onde der. A vida é curta, amanhã não passarão do que hoje são as suas músicas: Mer....

* Publicado no Suplemento Cultural do Jornal "Notícias", de Maputo, 20.02.08

1 comentário:

  1. Este ponto de vista nao reflecte realidade nenhuma. Acho pertencer a um individuo nao maduro para apreciar arte musical. Portanto, sao lamentaveis as barbaridades que nos deixou...

    ResponderEliminar