Tal como muitos milhões de pessoas de todo o mundo, não tive como escapar do frenesim que caracteriza os dias que antecedem as celebrações do Natal, que assinala o nascimento de Jesus Cristo.
As minhas referências religiosas e culturais sobre este acontecimento ímpar remontam às décadas de sessenta e setenta do século passado, primeiro numa pacata vila marcadamente metodista em Inhambane e, depois, na então Porto Amélia, hoje Pemba, entre os católicos.
A alegria com que assinalava-se esta quadra natalícia não nos fazia esquecer, de modo algum, a sua importância nas nossas vidas e nas dos outros, amigos ou não. A Paz e a Harmonia no mundo era o sentimento que nos dominava e nos irmandava.
Hoje, já com família feita, cogitei o que fariamos para celebrar o Natal: como, onde e com quem; que prendas oferecer e a quem, e claro está, fazendo as contas do dinheiro possível para que o 25 de Dezembro fosse dignamente passado.
A primeira dificuldade com que eu e a minha família nos esbarramos foi o envio dos tradicionais “Postais de Boas Festas e Feliz Ano Novo”. Para mim, como chefe da família, o envio destes postais era uma questão de honra. Não havia como se discutir.
A realidade de hoje, porem – e tecnicamente desnudada pelos meus filhos e netos – é que os tais postais são carissímos; depois, como enviá-los aos destinatários se os serviços dos correios são o que são. Quer dizer: Aquele ritual de assinar e endereçar a cartolina de boas festas, enfiá-lo num envelope selado com o recurso à saliva e depois enfiá-lo naqueles marcos vermelhos dos CTT implantados nas ruas e avenidas, esse bonito ritual, dizia eu, já era.
Verguei-me, impotente, perante tamanha crueldade.
A solução encontrada foi o envio desses postais via Telemóvel – vulgo SMS. Cabisbaixo, entrei na modernidade.
Mais barato e mais rápido, confimei, quando comecei a receber de todos os cantos deste país, os SMS alusivos à quadra festiva que estamos a viver.
Ao meu telefone móvel entraram as mais diversas mensagens: desde as sérias e sinceras, até àquelas com cunho obsceno, estas enviadas por individuos para quem o Natal não é mais do que um pretexto para a prosmicuidade, violência gratuíta, sangue nas estyradas, bebedeiras e “ajuste de contas”. Para estes, Paz, harmonia e reconciliação são apenas palavras, palavras cujo significado lhes escapa. Não têm referências. Ou se as têm são as que a sociedade moderna nos dá a consumir.
Uma dessas mensagens electrónicas que deram ao meu celular tinha mais ou menos o seguinte teor: “Atenção, acaba de nascer hoje, dia 25 de Dezembro, um individuo de raça branca, cabeludo e com barba por fazer; trajando uma túnica branca e sandálias. Diz-se dele que é dotado de poderes capazes de transformar o Thonthonto em Wiskhy de marca”. E a mesagem termina com “Esteja atento porque o dito cujo pode estar por perto”.
Que fazer perante esta realidade deformada, em que o Natal só é bem festejado quando no dia seguinte nos sentimos satisfeitos com as iguarias e as bebidas que conseguimos ter à mesa. Se as mazelas porque o mundo passa vão ou não continuar, isso não importa. Que se lixem os outros: o que eu quero é comer e beber à farta e esperar pelo próximo Natal. Viva o Consumismo.
( Escrito e radiodifundido no dia 26 de Dezembro de 2008 )
As minhas referências religiosas e culturais sobre este acontecimento ímpar remontam às décadas de sessenta e setenta do século passado, primeiro numa pacata vila marcadamente metodista em Inhambane e, depois, na então Porto Amélia, hoje Pemba, entre os católicos.
A alegria com que assinalava-se esta quadra natalícia não nos fazia esquecer, de modo algum, a sua importância nas nossas vidas e nas dos outros, amigos ou não. A Paz e a Harmonia no mundo era o sentimento que nos dominava e nos irmandava.
Hoje, já com família feita, cogitei o que fariamos para celebrar o Natal: como, onde e com quem; que prendas oferecer e a quem, e claro está, fazendo as contas do dinheiro possível para que o 25 de Dezembro fosse dignamente passado.
A primeira dificuldade com que eu e a minha família nos esbarramos foi o envio dos tradicionais “Postais de Boas Festas e Feliz Ano Novo”. Para mim, como chefe da família, o envio destes postais era uma questão de honra. Não havia como se discutir.
A realidade de hoje, porem – e tecnicamente desnudada pelos meus filhos e netos – é que os tais postais são carissímos; depois, como enviá-los aos destinatários se os serviços dos correios são o que são. Quer dizer: Aquele ritual de assinar e endereçar a cartolina de boas festas, enfiá-lo num envelope selado com o recurso à saliva e depois enfiá-lo naqueles marcos vermelhos dos CTT implantados nas ruas e avenidas, esse bonito ritual, dizia eu, já era.
Verguei-me, impotente, perante tamanha crueldade.
A solução encontrada foi o envio desses postais via Telemóvel – vulgo SMS. Cabisbaixo, entrei na modernidade.
Mais barato e mais rápido, confimei, quando comecei a receber de todos os cantos deste país, os SMS alusivos à quadra festiva que estamos a viver.
Ao meu telefone móvel entraram as mais diversas mensagens: desde as sérias e sinceras, até àquelas com cunho obsceno, estas enviadas por individuos para quem o Natal não é mais do que um pretexto para a prosmicuidade, violência gratuíta, sangue nas estyradas, bebedeiras e “ajuste de contas”. Para estes, Paz, harmonia e reconciliação são apenas palavras, palavras cujo significado lhes escapa. Não têm referências. Ou se as têm são as que a sociedade moderna nos dá a consumir.
Uma dessas mensagens electrónicas que deram ao meu celular tinha mais ou menos o seguinte teor: “Atenção, acaba de nascer hoje, dia 25 de Dezembro, um individuo de raça branca, cabeludo e com barba por fazer; trajando uma túnica branca e sandálias. Diz-se dele que é dotado de poderes capazes de transformar o Thonthonto em Wiskhy de marca”. E a mesagem termina com “Esteja atento porque o dito cujo pode estar por perto”.
Que fazer perante esta realidade deformada, em que o Natal só é bem festejado quando no dia seguinte nos sentimos satisfeitos com as iguarias e as bebidas que conseguimos ter à mesa. Se as mazelas porque o mundo passa vão ou não continuar, isso não importa. Que se lixem os outros: o que eu quero é comer e beber à farta e esperar pelo próximo Natal. Viva o Consumismo.
( Escrito e radiodifundido no dia 26 de Dezembro de 2008 )
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