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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Felismina, como eu te curto muito

Ou como o “Kumbú” também verga mesmo aqueles que tentam primar pela qualidade
Ao “Brada” Fernando Manuel, esse incurável noctívago

Um dia após a publicação do artigo da minha autoria “Felizminha, eu te gramo muito” no Cultural do jornal “Notícias” (20.02.08), sou surpreendido, para não dizer defraudado, com as imagens do vídeo-clip da bonita música de Stewart Sukuma, inserida no albúm “Khuvu”.
Tal vídeo-clip – de excelente qualidade técnica, reconheça-se – terá passado pela primeira vez no programa musical “Music Box” realizado por Celso Domingos do canal STV, numa altura em que dois integrantes da obra “Khuvu” (Stewart e Hortêncio Langa) falavam de tudo e mais alguma coisa sobre o estágio actual da música moçambicana.
No essencial estou de acordo com as opiniões por eles manifestadas, sobretudo no que à banalização da nossa música diz respeito, tudo indicando que por imperativos do lucro fácil e ausência de referências culturais dos que procuram ou pretendem ser seus fazedores.
Já no que diz respeito ao vídeo-clip – concepção de cenários, escolha de figurantes e enquadramento no todo da letra e instrumental da “Felizminha ...,” – parece-me que a obra (visual e não sonora) defrauda porque deita por terra a imagem que Stewart quiz dar (e bem) à mulher “Felizminha” que nós outros fazemos dela.
Explico-me:
Na sua versão virtual não vislumbrei ninguem que se parecesse com uma única “Felizminha” da minha terra – bela, sensual e até, porque não, pura como um diamante por lapidar. O que vi foram umas tantas raparigas muito ao género a que me refiro no artigo sobre o CD “Khuvu”: Cindinhas, Ginocas, Fifis, Mimis, Lulus, muito ao jeito das badaladas e sofisticadas a que não se “Grama” mas “Curte-se” e deita-se fora.
Mais ainda: a “Felizminha” da música, porque conheço muitas e certamente o próprio Stewart deve as imaginar, não é de seu jeito andar trajada de vestuário das mais famosas Grifis (Levis, Boss, Gringo, Calvin Klein, ) mas sim de saias plissadas com os obrigatórios vincos, para não dizer capulana e lenços com motivos bem nossos, sandálias ou chinelas; não usa perfumes de marca como Paco, Organza, Givenchy e sim pó talco “Johnson” barato; e besunta-se com brilhantina e não com pomadas anti-raios ultravioleta e, finalmente, não usa mecha ou faz tiçagem ao cabelo.
A “Felizminha” da música, ao contrário da do Vídeo-Clip, não conhece a grande cidade e muito menos as suas pecaminosas maneiras de estar e ser; e muito menos faz-se transportar em carros de luxo. A orignal, essa sim, tem o seu mundo circunscrito aos bairros com casas de madeira e zinco, caniço e terra batida (maticadas), e não Flats, Apartamentos ou condomínios. Até o candeeiro a que se refere Stewart ela não tem porque caro. O Xiphefo, isso sim, de tal sorte que a luz esfumarada torna os seus olhos mais brilhantes que o diamante mais bruto. Agora, postes de iluminação pública, não fazem parte dos carreiros ou caminhos estreitos das aldeias ou bairros onde ela vive, onde a lua é rainha e torna-se cúmplice das escapadelas nocturnas para os encontros breves mas fogosos com o namorado.
Stewart: o janota que pretendes ser na “Felizminha, eu te gramo muito”, não faz a barba ou apara o cabelo nos cabelereiros de hotéis ou salões chics de Maputo. Para essas obrigações estéticas, ele tem o profissional que em dias e meses determinados circula pelo bairro ou aldeia para “trabalhar” o cliente certo, munido da sua maleta de papelão desbotado, com máquinas manuais de aço inoxidável e láminas Gillete para o desbaste dos pelos a mais – tudo isto embrulhado em pano impecavelmente limpo e fresco: o cliente não tem dinheiro para pagar o serviço? Não há problema, fica para a próxima cruzada.
O janota da “Felizminha” tem o visual de um Mafarrico (no sentido hedonista do termo), com corte de cabelo “English Cut”, calças justas acinturadas no limite mais ou menos permitido, pente fino à vista no bolso traseiro, sapatos “Beatles” bicudos e, como toque final, um maço de cigarros “LM” com o reluzente Ronson da Picada bem à mostra na palma da mão: andar finório portando um palito entre os lábios e assobio de noctívago assumido mas não tão amarelo como o que ouvimos na actual geração virtualizada.
Finalmente, tenho cá para mim que os janotas das “Felizminhas”, quando muito, faziam-se transportar – quais malabaristas de circo – em Zundaps, V5, Florets bem polidas, aos fins de semana, com tubos de escape de som bem conhecido nos bairros e aldeias. Nada de Katanas ou Hondas, para não de dizer de Carrochas pintadas digitalmente pelo computer.
Ora, chegados aqui, o que levou então Stewart Sukuma e a sua produtora a desfigurar a sua e nossa “Felizminha”? Das duas uma:
- Pressa em ter cá fora um produto de saída fácil e rápida, logo de fácil consumo para chorudos ganhos. O que não se pode aceitar num intérprete do seu calibre.
- A produtora e os seus integrantes não conhecem a “Felizminha” e, ao que tudo indica, o seu horizonte começa e acaba no bairro mais chik da grande Maputo.
“O Hortêncio Langa inspira-me”, diz o autor de Felizminha. Como? Onde é que o Hortêncio estava para não ter tido a oportunidade de opinar sobre o “crime” contra a pessoa de “Felizminha”?
Stewart: Assim não é assim. Curtiste os teus fãns. Eu não Gramei nada mesmo.

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