(Cena do Filme "Vers Le Sud", de Laurent Cantet-2005)
O último filme francês que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes foi “Sob o Sol de Satã”, de Maurice Pialat, em 1987. Não foi uma vitória consensual, muito longe disso. Foi uma bronca memorável. Pesadamente vaiado na cerimónia de entrega, Pialat fez um célebre manguito ao público e aos jornalistas, e disse: "Vocês não gostam de mim, mas eu também não gosto de vocês!"
Domingo, 21 anos depois, um filme francês voltou a vencer a Palma de Ouro, mas desta vez entre palmas e ovações. “Entre Les Murs”, de Laurent Cantet, crónica de um ano lectivo numa turma de um liceu "difícil" de Paris, adaptado do livro do professor, jornalista e escritor François Bégaudeau - que também interpreta o papel principal -, foi o útimo filme a ser exibido na Seleçcão Oficial, mas o primeiro no maior festival de cinema do mundo.
Este foi um dos dois únicos prémios atribuídos "por unanimidade" pelo júri este ano, como fez questão de salientar Sean Penn, o seu presidente. O realizador francês recebeu a Palma de Ouro rodeado pelos adolescentes que formam a turma do filme, e que frequentam um liceu da capital.
Numa competição com uma esmagadora maioria de filmes coladinhos à realidade do mundo contemporâneo, desde a situação no Médio Oriente às mudanças galopantes na China, passando pelo poder do crime organizado, ganhou uma obra que baralha as fronteiras entre documentário e ficção, e que encara sem hesitar os aspectos mais crús, desanimadores ou politicamente incorrectos dos conflitos (de autoridade, pedagógicos, raciais, culturais) travados nas salas de aulas de incontáveis escolas, e não apenas das francesas.
Outro dos grandes filmes da competição, Gomorra, o fabuloso mosaico de Matteo Garrone sobre a omnipresença da Camorra no Sul de Itália, saiu de Cannes com o Grande Prémio.
Mas em vez de fazer o ramalhete e distinguir ainda o terceiro melhor filme dos 22 deste ano, The Exchange, de Clint Eastwood, sobre um escândalo policial na Califórnia dos anos 20, o júri "inventou" um Prémio Especial, para "duas personalidades do cinema mundial", e não para os filmes que assinaram ou interpretaram: Eastwood e Catherine Deneuve, uma das actrizes de Un Conte de Noel, de Arnaud Desplechin. Soube a prémio de compensação muito mal travestido de prémio de carreira. Deneuve recebeu pelos dois, com ar pouco satisfeito.
Outro dos grandes filmes da competição, Gomorra, o fabuloso mosaico de Matteo Garrone sobre a omnipresença da Camorra no Sul de Itália, saiu de Cannes com o Grande Prémio.
Mas em vez de fazer o ramalhete e distinguir ainda o terceiro melhor filme dos 22 deste ano, The Exchange, de Clint Eastwood, sobre um escândalo policial na Califórnia dos anos 20, o júri "inventou" um Prémio Especial, para "duas personalidades do cinema mundial", e não para os filmes que assinaram ou interpretaram: Eastwood e Catherine Deneuve, uma das actrizes de Un Conte de Noel, de Arnaud Desplechin. Soube a prémio de compensação muito mal travestido de prémio de carreira. Deneuve recebeu pelos dois, com ar pouco satisfeito.
Antes de começar a anunciar os prémios desta edição do festival, Sean Penn frisou a grande qualidade da Selecção Oficial de 2008, e disse que o júri tinha gostado muito de filmes que, infelizmente, não iam "ganhar nada".
A verdade é que quase todos os outros prémios do palmarés foram tiros ao lado, tirando o da Realização para o turco Nuri Bilge Ceylan, com Three Monkeys, e que, também não tinha ficado mal nas mãos de outros três ou quatro realizadores.
Ao lado, o Prémio de Argumento para os irmãos Dardenne com O Silêncio de Lorna, o seu pior filme até à data; ao lado, o Prémio do Júri para Il Divo, de Paolo Sorrentino, retrato grotesco do político italiano Guilio Andreotti; ao lado, o Prémio de Melhor Actriz dado à estreante brasileira Sandra Corveloni, em Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, que devia ter ido ou para a argentina Martina Gusman, em Leonera, de Pablo Trapero, ou para Angelina Jolie (sim, leram bem) em The Exchange. E enviesado, o Prémio de Melhor Actor para Benicio Del Toro em Che, de Steven Soderbergh, num ano pobre em papéis masculinos.(X)
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